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Oportunidades

O texto agora é sobre oportunidades. Tem uma frase que diz: “A segunda coisa melhor do que saber aproveitar uma oportunidade na vida, é saber quando deixá-la passar”, escrita por Benjamin Disraeli. Mas o que isso quer dizer? Quando começamos a programar a viagem (por mais que não pareça), a gente refletiu no número de oportunidades que teríamos que abrir mão: abrir mão do emprego fixo, das aulas a distância que gravávamos, de materiais didáticos que elaborávamos, de uma vida confortável e relativamente segura, de uma carreira acadêmica. Duro, não? Trabalhávamos, às vezes, por dezoito horas por dia (gravando de manhã e à tarde e ministrando aulas à noite) e sempre aparecia um curso ou outro, viagem pra dar aula em alguma outra cidade e, afinal de contas, ainda estamos na flor da idade. E o que a gente usou pra decidir que era hora de parar?

Estas mesmas oportunidades maravilhosas de trabalho que nós tínhamos. Começamos a colocar na balança os prós e os contras de largar tudo aos 30 e poucos anos, idade considerada o auge para o trabalho (e realmente era assim conosco). Mas mesmo assim a gente resolveu largar tudo. Em nosso caso alguns fatores já expostos (a doença degenerativa do Michael), um tombo que tomamos com móveis para um apartamento que atrasou dois anos e por aí vai… Mas principalmente refletimos o seguinte: eu posso desacelerar a vida e buscar algo que me dê mais prazer e completude (no caso viajar e mostrar essas viagens) aos 40 ou 50 anos?

Gente, de boa, dá pra viajar com 100 anos de idade, mas a cada ano que passa as responsabilidades e as limitações aumentam. No nosso caso, optamos por não ter filhos, mas mesmo assim, a cada ano que passa, aumentam as dores e o número de remédios e a gente fica mais exigente e chato. De verdade!

Desde 2004, quando começamos a viajar e fomos pra Nova Zelândia, já ficamos em cada “muquifo” que nem a gente acredita que ficou, a pergunta que nós nos fizemos é: atualmente, a gente suportaria isso? Pra fazer um mochilão econômico, iremos encarar algumas coisas, mas muito do que já vivemos não é mais possível.

A cada dia que passa é mais difícil largar tudo, é preciso pensar em tudo, quem receberá as cartas, como ficam as contas, os animais de estimação… Pensamos também em nossos pais e notamos que a hora era agora, pois estão saudáveis e o máximo que terão será saudades!

Garanto que também passa pela cabeça das pessoas se a gente não se importa com nossos parentes, amigos, animais de estimação. A resposta é SIM pra todas as opções, mas não queremos olhar pra trás e pensar: a gente podia ter arriscado, a gente podia ter ido! A gente se importa e a tecnologia vai nos ajudar muito a matar um pouco da saudade, mas é preciso deixar essa oportunidade de ficar com a família ficar um pouco pra trás e precisamos desbravar esse mundo.

Por outras oportunidades perdidas e algumas encontradas, nós já havíamos mudado da vida corporativa, ambos trabalhando em multinacionais e trocamos pela vida acadêmica. No começo, todo mundo achou loucura e a gente mesmo sofreu nesta transição. Mas agora, a gente vê como abrir mão de algumas coisas ou ainda dar um passo para trás nos proporcionou outras oportunidades.

A carreira docente não é limitada pela idade, não é competitiva como é no mundo corporativo e está cheia de possibilidades, então no campo profissional não foi tão difícil assim.

Eu, Tatiane, tirei uma licença não remunerada de um ano, que foi possível pela relação com minha empresa e pelo objetivo maior da viagem: conhecer junto ao Michael o máximo possível do mundo antes que a distrofia o impeça de caminhar normalmente. O Michael, por sua vez, já era reformado da aeronáutica justamente devido ao seu problema de saúde. Também ministrava aulas, porém com o avanço dos sintomas, já não mais trabalhará nisso na volta.

Neste ponto, nosso perfil acaba diferindo um pouquinho, mas sim, a gente tinha carreira, sim a gente trabalhava e sim a gente (com adaptações) voltará para trabalhar. Não posso dizer que éramos workaholics (apesar das intensas horas trabalhadas). Faz muito tempo que estamos num perfil muito mais relax, em que o SER já era muito mais que TER, então não tinha mais jeito: era volta ao mundo na cabeça e desde já sabemos que não iremos nos arrepender!

4 comentários

  1. Emocionei!! O Michael foi meu professor no primeiro ano de faculdade… foi um grande Mestre.. e junto com alguns outros marcou minha vida!! E é com orgulho que conto pra meus familiares que tenho um prof e que vai dar a volta ao mundo!! Viva a tecnologia que permite a vocês Tati e Michael compartilhar conosco essa aventura e de alguma maneira parece que estamos viajando juntos rsrsrsrs!! Parabéns gente!! estou aqui com minha família torcendo e espiando!! Beijooooo no coração

    • Oi, Gabriela! Quase 10 anos que você teve aula comigo e isso me deixa muito feliz: um aluno que não esqueceu do professor! Bom saber, também, que sempre podemos exercer influência positiva na vida de vocês. Também lembro bem de meus alunos, inclusive de você!! Muito obrigado e parabéns!!! 😀

  2. Um lindo texto, “só para variar”, não é amigos? Já disse para o Michael que tudo isso deve ser transformado em um livro. Adoro vocês!!! Bjs

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